quarta-feira, 11 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

ABORDAGENS PSICOPEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Sílvia Cristina de Souza Trajano


RESUMO


O presente trabalho traz, em uma abordagem referente a perspectiva da educação inclusiva, a Psicopedagogia como enfoque social dentro de uma dimensão macrossocial, na qual apresenta alguns pontos fundamentais nas Políticas para a Educação Especial e o comportamento histórico-cultural a partir da Antiguidade, culminando na contemporaneidade com a dimensão microssocial da escola, da família e acentuando esta última pela sua função social como parceira da família e uma complementação executiva das determinações legais, mas que muitas vezes precisa de auxilio de especialistas para da andamento a suas atribuições. Por isso “As Abordagens Psicopedagógicas na Educação Inclusiva de Alunos com Deficiência Intelectual”, vem apresentar, não apenas a função macrossocial das Políticas Públicas e a microssocial da escola e família, mas as intervenções fundamentalmente necessárias da Psicopedagogia como um dos elementos multidisciplinares com o papel de somar forças na busca de soluções no que diz respeito as dificuldades de aprendizagem de ordem patológica congênita ou adquirida no próprio ambiente sócio-cultural do contexto de cada indivíduo.

Palavras Chave: Educação, Inclusão, Psicopedagogia




INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende apresentar as “Abordagens Psicopedagógicas na Educação Inclusiva dos Alunos com Deficiência Intelectual”, analisando e discutindo o papel da Psicopedagogia e sua efetiva contribuição nos diversos espaços sociais, mais especificamente, na escola e no contexto familiar, evidenciando algumas barreiras encontradas por especialistas na intervenção de alunos com Deficiência Intelectual (DI), a começar com a relação e criação de vínculo terapêutico entre família, paciente e psicopedagogo, que muitas vezes não aceitam a realidade dos fatos apresentados pelo especialista ou não se comprometem integralmente no tratamento, atribuindo o insucesso do aluno/filho ao psicopedagogo. Fracasso que muitas vezes é resultado de terapias que vem como atitudes de independência, autonomia e melhoria no comportamento social que já se aproxima da normalidade, mas que é interpretada pela família como rebeldia e resposta negativa ao tratamento terapêutico que logo é interrompido.
A família contribui de forma significativa com as intervenções psicopedagógicas, sendo capaz de aceitar de forma racional as evidências e a devolutiva? As instituições educacionais contribuem efetivamente e aceitam as intervenções psicopedagógicas no espaço da escola? Os psicopedagogo estão sabendo realizar e conduzir as intervenções e as devolutivas para a família e paciente?
Será possível verificar essas respostas e as dificuldades de intervenções Psicopedagógicas, inclusive no ambiente escolar, onde educadores se mostram resistentes ao aluno da Educação Inclusiva, mesmo com a existência das Políticas Públicas para a Educação Especial e as determinações legais. Alguns professores rejeitam o auxilio e a intervenção Psicopedagógica, o que dificulta ainda mais o processo de melhoria desses alunos.
Como a intenção da presente pesquisa é apresentar as Abordagens da Psicopedagogia na Educação Inclusiva de alunos com DI, será necessário realizar um retrocesso histórico da Educação Especial, desde a Antiguidade até os dias atuais para que se compreenda o comportamento social diante do desconhecido que provoca medo, rejeição e distanciamento das pessoas ditas “normais” as pessoas com DI. Este retrocesso histórico é realizado no capítulo 1, com o título: A deficiência intelectual: ontem e hoje.
No capítulo 2 é realizada uma sucinta apresentação das abordagens teóricas e práticas no campo da Psicopedagogia, iniciando-se com um paralelo da Psicopedagogia no Brasil e Argentina e o campo de atuação do psicopedagogo.
Após a compreensão da atuação psicopedagógica, chega-se no capítulo 3 com a necessidade de se retomar o tema Educação Inclusiva com o histórico e as conclusões que justificam o comportamento contemporâneo social diante da Deficiência Intelectual nos diversos contextos e a atuação psicopedagógia na atual conjuntura social.
Por fim, no capítulo 4 é ilustrado com o título: A Psicopedagogia, o social do Deficiente Intelectual, o qual encerra com a efetiva discussão das abordagens psicopedagógicas da Educação Inclusiva de alunos com Deficiência Intelectual em estudos de caso, com o intuito de entendimento da dinâmica das relações familiar.
Deseja-se que este trabalho seja um campo fértil de motivação para pesquisas com objetivo de compreender melhor a vida dos Deficientes Intelectuais e as formas de intervenção pedagógica, apresentando que a Psicopedagogia é uma área que veio somar com tantas outras e que podem prevenir, tratar e até sanar dificuldades, distúrbios e patologias controláveis pelo contexto e comportamento.
A pesquisa é do tipo bibliográfica, sendo utilizados vários livros, periódicos, trabalhos científicos de Internet, documentos legislativos e atividades realizadas no decorrer do Curso de Especialização de Psicopedagogia do Centro Universitário de Barra Mansa.



CONCLUSÃO

A família quase sempre não tem contribuído de forma significativa com as intervenções Psicopedagógicas, não sendo capaz de aceitar de forma racional as evidências explicitadas ao longo das sessões e na devolutiva. Muitas vezes o contexto familiar, já acostumado com a patologia cultural do ambiente, cria um paradigma que quando rompido é interpretado como agravamento e não como melhora. E as intervenções pedagógicas provocam mudanças que vão mexer com as estruturas de todos os indivíduos do lar. Nem sempre a família está preparada para mudanças, às vezes ela não quer mudanças, ainda que a busca por ajuda profissional possa ser um comportamento contraditório, mas o pensamento e comportamento humano são tão complexos quanto contraditórios.
Conheço vários profissionais de Psicopedagogia que “fizeram” seu nome e que hoje, pessoas “desfazem” seu nome, devido a não compreensão de encaminhamentos e devolutivas realizada pelo psicopedagogo. Na verdade percebo uma falha no comportamento profissional desses psicopedagogos que se precipitam em dizer algo que não quer ser ouvido, visto, ainda que isso implique em paciência e jogo de cintura, é importante criar e manter o vínculo terapêutico de modo que a confiança não seja abalada pelo que seja dito e ainda sim a sutileza de “induzir” ao invés de “dizer” a realidade (que é variável e questionável) vale mais do que qualquer outra forma de diálogo e aconselhamento. Aliás, é por isso que conselhos não funcionam, pois são ditos e não conduzidos. Pessoas aprendem com erros e constatações e muito menos com palavras que só fazem efeito quando já se passaram pelo campo do empirismo.
Outra falha de alguns psicopedagogo é o foco fechado no paciente que está inserido em um contexto rico de acontecimentos que marcam sua personalidade e suas patologias, congênitas ou não. Olhar entorno é entender como proceder e onde intervir, especificando o trato terapêutico para cada paciente, família, situação e contexto. Ouvir e mais importante que falar. Conhece-se melhor o outro quando se dispõe a ouvi-lo. É assim que se cria, o primeiro passo para, o vínculo de confiança.
As instituições educacionais raramente contribuem efetivamente e aceitam as intervenções Psicopedagógicas no espaço da escola, pois estão preocupadas em preservar sua vaidade em defender-se, afirmando que as metodologias, os procedimentos são adequados já que funcionam para a maioria dos alunos ou que, a escola não tem infra-estrutura e que os professores não são capacitados para trabalharem com alunos deficientes. A escola é vítima culpabilizada pela sociedade e que precisa de ajuda, mas não aceita auxílio e não busca capacitar-se. Ressalta-se aqui a importância de não generalizarmos essa situação, porque existem bons exemplos de escolas inclusivas e que correm atrás, fazendo trabalhos que fazem diferença. Mas é sabido que mesmos com todas as exigências de documentos com força de lei e da própria legislação, na prática a diferença da teoria ainda é gritante, embora possamos ter algumas comemorações no que diz respeito a progressos no campo da inclusão de alunos/ pessoas com deficiência intelectual.
A Educação Especial (inclusiva) precisa ser a aliada na pesquisa e no desenvolvimento de novas formas de ensinar, na heterogeneidade dos aprendizes, sendo compatíveis com os ideais democráticos, na função de orientação, supervisão e acompanhamento das condições educacionais apropriadas.
Para que o educador efetive suas práticas a partir desse ideal é fundamental o apoio emocional e os estímulos profissionais através da valorização docente e da capacitação contínua, como proposto no PNE.
"Pelo caráter paralelo que apresentou ao longo da história educacional brasileira, a Educação Especial trabalhava somente com o que concernia aos grupos excluídos em função de suas deficiências. Por exemplo, ao programar uma palestra, focalizava somente os educadores que possuíam crianças ‘especiais’ e não toda a escola, ou toda a rede. Bastava que apenas o professor desses alunos obtivesse o conhecimento sobre elas. O professor que possuía somente alunos ‘normais’ não adquiria o conhecimento e perpetuava a sua desmotivação e sua desvalorização acerca do alunado da educação especial."
(http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=369).

A formação de educadores deve firmar-se numa transformação: a passagem de uma atenção centrada na criança considerada como tendo dificuldades de aprendizagem para uma atenção que engloba todas as crianças, de acordo com o desejo de Mantoan. Os educadores devem concentrar seus esforços na melhoria da forma como enfrentam a diversidade, cuja educação deve visar a ajuda de todas as crianças para terem sucesso na escola (na sociedade), principalmente as que têm de ultrapassar deficiências ou dificuldades específicas.
As relações escola-família-psicopedagogia devem, resumir-se em respeito mútuo, para que pais garantam as possibilidades de exporem suas opiniões, ouvirem os professores, psicopedagogo sem o receio de serem avaliados, criticados. A intervenção Psicopedagógica deve ser no sentido de considerar a necessidade da família vivenciar reflexões e análises que lhes possibilitem sua reconstrução e a revisão de seus paradigmas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARBOSA, Laura Monte Serrat. A História da Psicopedagogia contou também com Visca, in Psicopedagogia e Aprendizagem. Coletânea de Reflexões. Curitiba, 2002.
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PRECONCEITO É FEIO

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

AS RELAÇÕES FAMÍLIA, ESCOLA E O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO SOCIAL DO DEFICIENTE MENTAL NA PROPOSTA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

POR: SÍLVIA CRISTINA DE SOUZA TRAJANO

RESUMO

Este trabalho pretende proporcionar, de forma condensada, porém analítica e reflexiva, a luz de teóricos que valorizam o estudo da semiótica, o desenvolvimento humano e a complexidade da dinâmica da vida social do aluno (pessoa) com deficiência mental em seus diversos contextos, mais especificamente, nas relações familiar e escolar. Mostra como nossa cultura vem sendo constituída e reconstituída ao longo dos séculos, as evoluções e entraves diante de paradigmas e preconceitos culturais segregacionista que antecedem nossa existência, justificando muitos comportamentos “incoerentes” e “inconscientes” que temos no trato social com o deficiente mental. Apresenta práticas de uma escola regular comum que tenta acertar atendendo às determinações legais, fazendo sua parte da melhor maneira que consegue, mostrando que nem sempre é suficiente ter documentos oficiais e legislação sem uma fiscalização efetiva que se faça valer os direitos das pessoas com deficiência mental. A família necessita de apoio e orientação sobre a deficiência mental. Na escola, os professores precisam de capacitação e segurança para as práticas pedagógicas (inclusivas) e o exercício das Políticas Públicas para a Educação Especial, tendo em vista que a Educação Inclusiva é para todos, para os deficientes, mas também para os não deficientes. É para a família, para os professores, para a sociedade.


Palavras-chave: Deficiência. Relações Sociais. Educação Inclusiva.



INTRODUÇÃO

“As Relações Família, Escola e o Desenvolvimento Cognitivo Social do Deficiente Mental na proposta da Educação Inclusiva” é o tema da presente pesquisa. Estes são fatores fundamentais para o entendimento e a compreensão dos “Processos de Ensino e Aprendizagem” na perspectiva histórico-cultural do deficiente intelectual em seus diversos contextos da sociedade, inclusive a familiar.
A família projeta sonhos como a organização do quarto, o berço, os brinquedos e todo o aparato infantil para a recepção do bebe. Às vezes os pais, mesmo sem saber o sexo da criança, já fazem a decoração do quarto, arriscando nas cores do gênero masculino ou feminino. Tudo é festa, alegria, profecias, antes de qualquer notícia desagradável ou da chegada de uma criança que pode ser bem diferente daquela sonhada pela família.
Há famílias que não planejam filhos ou se quer desejam uma criança, mas ainda sim, surge o rebento, uma vida, independente da vontade alheia. Muitas vezes nasce como fruto da ignorância, mas cresce como uma semente do amor, com carinho, atenção, motivação e estímulos. Outras nascem de um planejamento, que frustrado, fica sem amor, atenção, afeto...
A pessoa é concebida como um todo funcional onde os diversos processos psicológicos, cognitivo, afetivo, emocional, motivacional e social relacionam-se de forma coordenada um com o outro.
(SILVA, disponível em: http://www.indianopolis.com.br/si/site/1164. Acesso em 8 out 2008).
A presença de uma criança com necessidades especiais na família afeta os pais, como também aos outros membros da sociedade. Vizinhos e conhecidos comumente desenvolvem um sentimento de compaixão e assistencialismo com esses pais e futuramente com a criança, enxergando nela, a pessoa com deficiência, apenas suas limitações e impossibilidades ou um fardo para seus progenitores. Quando se trata de Deficiência Mental, as relações ficam mais complexas, pois as pessoas não conhecem suas causas, suas sequelas e acabam por desenvolver crenças que segregam, limitam e isolam “pessoas” (Deficiente Mental). Em alguns casos a família é segregada pelo estigma de ter um deficiente tão próximo, sofrendo com o legado social, de que todo deficiente mental é “limitado e incapaz” de realizar coisas, de pensar, de aprender e de sentir.
Este trabalho tem o propósito de analisar os processos de ensino aprendizagem da criança com deficiência mental e a adequação da metodologia e recursos utilizados pelos profissionais da educação, além dos aspectos sociais e afetivos que o ambiente escolar e familiar podem promover, tornando propício a inclusão. Evidenciar a importância da disponibilidade, pelos órgãos públicos, do trabalho multidisciplinar nas redes de ensino, em parceria com a família, conhecer as práticas pedagógicas da escola regular comum e sua efetiva funcionalidade quando articulada em conjunto com a família da criança com deficiente mental é também interesse desta pesquisa.
O que uma instituição tem feito para somar com a outra na melhoria da qualidade de vida e do desenvolvimento afetivo e psicossocial do Deficiente Mental, com sua família e como esse envolvimento repercute nos processos de ensino aprendizagem é que se pretende saber. Que articulação existe na relação família e escola que vise a capacidade global do Deficiente Mental? Como os órgãos governamentais vêm oferecendo recursos materiais, financeiros e mecanismos de atendimento multidisciplinar e fiscalização para a escola comum, elaborando um plano de ação que priorize a família e a educação, em prol do Deficiente Mental e sua inclusão nos vários segmentos da educação e sociedade? Qual a importância da permanência do Deficiente Mental no adequado ambiente social, mais especificamente, o familiar, para o seu desenvolvimento afetivo, cultural e social?
Estes são alguns questionamentos que a pesquisa trata com vistas a compreender melhor a inter-relação que constituem a base para o desenvolvimento da saúde psicológica e o bem-estar da criança com Deficiência Mental. Crianças que ficam sem aten­dimento multidisciplinar, durante seus primeiros anos de vida, exigindo uma postura da família que passa a exercer papel fundamental nessa fase. Entretanto a família muitas vezes não se dá conta desse papel, preferindo o isolamento da criança quando percebe que é deficiente. Isolamento que prejudica a interação social comprometendo a linguagem, a vivência e as relações com o mundo e as coisas que precisam ser experimentadas, vivenciadas, sentidas, como os erros e acertos que fazem parte de qualquer ser que aprende. Criando limitações para a pessoa com deficiência e na própria família.
Os diferentes papéis sociais e a nossa extrema plasticidade como seres humanos permitem que nos adaptemos às diferentes situações sociais e que sejamos capazes de nos comportar de forma diversa em cada uma delas. Aprender os nossos papéis sociais é, na realidade, aprender o conjunto de rituais que nossa sociedade criou. (Vianna e D’Avila, 2008, p.94).
Todo ser humano é capaz de aprender. Cada um no seu ritmo, mas para isso há que se ter condições humanas e sociais, e no caso da pessoa com deficiência mental, são necessários estímulos, motivos que ressignifiquem os sentidos, para que na socialização primária (família) a base seja fortalecida com o convívio do afeto e da perspectiva positiva. É na família que ocorre a formação de consciência de valores, a identidade pessoal, o estímulo, participando e mantendo um elo afetivo consciente de seu papel na intervenção da deficiência, a medida em que propicia o crescimento e desenvolvimento dessa criança por meio de um ambiente estimulador, e de relações saudáveis, crescem e aprendem em conjunto. A família pode e deve trabalhar em parceria com a escola, colaborando com os Processos Educacionais utilizados na inclusão do aluno. Quando a família faz sua parte em casa, um grande passo já foi dado quando e o deficiente mental chega à escola com uma maior possibilidade de integração e socialização bem próxima do que se deseja da inclusão.
A pesquisa é do tipo bibliográfica, com referência no próprio material de estudo do curso de Educação Especial. Além de outras bibliografias, tais como periódicos, sites e documentos do MEC que tratam sobre o tema da inclusão e metodologias de ensino, mas a pesquisa de campo também foi utilizada como observações e análises de estudos das vivências pedagógicas de uma escola onde foram realizadas as práticas educacionais com alguns alunos com deficiência mental e com necessidades educativas especiais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O preconceito não está nos lugares e nem nos outros, está dentro de cada um de nós. E uma forma de resistir as suas manifestações é não negando isso. Assumir o preconceito latente dentro de cada um de nós é o primeiro passo para a libertação.

Muitas vezes a escola segrega e a Classe Especial é um exemplo disso. Embora tivesse sido criada com o propósito de “integração" dos alunos especiais à escola regular, para posterior reintegração às classes comuns, na realidade a Classe Especial teve outro fim, tornando-se um espaço de segregação dentro da própria escola, já que a Constituição Federal determina o acesso a escola como um direito de todos, mas não define como deverá ser a permanência após o ingresso. Entrar, às vezes é fácil, mas manter-se é difícil, penoso, doloroso...
Várias Classes Especiais transformaram-se em depósito de alunos com deficiência, não deficientes, com necessidades educacionais especiais, alunos que não aprendiam por causa da metodologia inadequada para eles. Ao invés da Classe Especial oferecer atendimento individualizado priorizando as necessidades dos alunos, adaptando a metodologia da escola para melhor aquisição dos conteúdos pelos alunos, de modo que pudessem dar continuidade aos estudos em Classes Regulares de acordo com ano/série, na verdade não acontecia nem a integração, nem a inclusão.
Muitos alunos ficaram vários anos nas Classes Especiais, que mesmo apresentando progresso e aptidão para irem para Classe Regular, já estavam “velhos” demais para ficarem com os alunos mais novos e menores. Acabavam permanecendo na Classe Especial até irem para a EJA, ou terem sua terminalidade de estudos determinada, ou ainda, evadirem.
Mas, diante de um mundo globalizado, com tantos avanços em diversas áreas: econômica, tecnológica e social, é inegável afirmar que não progredimos em termos educacionais no que se refere a educação inclusiva de pessoas com deficiência intelectual . É sabido que o discurso que ouvimos, é bem diferente, mas quando nos comprometemos a analisar, com uma perspectiva mais reflexiva a realidade das pessoas com deficiência intelectual, suas vivências no campo social do “ontem” não têm comparação com a evolução que vem atravessando até os dias de “hoje”. Isso não quer dizer que não há o que ser melhorado, pelo contrário, muito ainda precisa ser feito para que a vida de pessoas com deficiências seja melhor e mais próxima da normalidade, sendo estas pessoas aceitas e compreendidas por seus pares. E isso só será possível com mudanças no comportamento da própria sociedade ao projetar uma perspectiva de possibilidades e oportunidade sem o sentido de ação caridosa ou de assistência perene.
Analisando os fatos descritos, de certa forma, concluímos que a sociedade vem tomando consciência do papel das pessoas com deficiência intelectual e de seus direitos e deveres como indivíduos pertencentes a uma sociedade democrática. A Escola tem como função social facilitar o acesso dessas pessoas (alunos em geral), no mundo social e pode fazer isso utilizando os estudos da semiótica, com o entrosamento de todos os alunos em todas as situações de linguagem na escola, beneficiando-se do mesmo momento de aprendizagem, mas respeitando as individualidades e as limitações de cada um, que podem ser temporárias ou não. O que irá definir é o desenvolvimento é o ambiente e os estímulos que a pessoa (aluno) receberá.
O educador contemporâneo deve conhecer e saber trabalhar com a diversidade, respeitando as subjetividades e para isso precisa estar se preparando, constantemente, para atender a heterogeneidade das Classes na Inclusão, deve estar interligada a um conhecimento científico que revela o desenvolvimento da criança nos níveis afetivo, cognitivo e social, e suas respectivas relações com os processos de aprendizagem.
O processo de inclusão é complexo, mas necessário e muito satisfatório quando realizado. É uma realização a ser vista a longo prazo pelo social. Inicia-se no microssocial (familiar, escolar) para o macrossocial (cidade, estado, país, mundo). Incluir nada mais é que trocar, entender, respeitar, valorizar, lutar contra a exclusão, transpor barreiras que a própria sociedade criou para os indivíduos, mas que ela mesma pode derrubar. É oferecer o desenvolvimento da autonomia, através da elaboração de pensamentos e formulação de juízos de valor, de modo que o deficiente intelectual possa decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.
A inclusão é que oferecer ao aluno mais do que se tem oferecido é propor a ele atividades significativas capazes de promover seu desenvolvimento e remover as barreiras a seu acesso e participação na aprendizagem e na sociedade. É criar relações de conflito para que os alunos, juntos em suas diferenças, possam buscar soluções. Todas as pessoas podem apresentar dificuldades em alguma área do conhecimento ou etapa da vida. As limitações são inerentes a qualquer pessoa, o que não significa que não se possa ser um indivíduo participativo ou capaz de aprender.
Se a família e a escola têm sua função social é importante ressaltar que as propostas educacionais não surgiram de conhecimentos isolados a ação dos professores é importante no que se refere as Políticas Públicas para Educação Inclusiva. O momento que estamos vivendo não é mais de alongar as resoluções, as leis, as portarias; mas, de trabalhar com a práxis.
Os órgãos governamentais vêm oferecendo recursos materiais, financeiros, mas não o atendimento multidisciplinar e a devida fiscalização para a escola regular/comum. A ação fiscalizadora que fica a cargo das prefeituras é delegada à sociedade que muitas vezes não cumpre essa atribuição, por ser segregadora ou sem informações.
Um ponto importante é a extinção da idéia de que a aprendizagem das pessoas com deficiência intelectual consiste somente em atividades de rotina como higiene, maneiras de portar-se à mesa ou em festas. A aprendizagem deve estar além disso, capacitar o indivíduo ao convívio, participação e auto-sustentação na sociedade. As relações e emoções fazem parte da vida dessas pessoas e por muitas vezes a família e a escola se esquecem disso. A aprendizagem não é só treino, mas principalmente afeto, sentido, incentivo, motivo...
Sendo assim a Educação Especial (inclusiva) precisa ser a aliada na pesquisa e no desenvolvimento de novas formas de ensinar, na heterogeneidade dos aprendizes, sendo compatíveis com os ideais democráticos, na função de orientação, supervisão e acompanhamento das condições educacionais apropriadas. Em escolas eficazes para todos, o ambiente de colaboração que trabalha baseado no enriquecimento das trocas intelectuais e culturais. Para que o educador efetive suas práticas neste ambiente ideal é fundamental o apoio emocional e os estímulos profissionais através da valorização docente e de capacitações contínua, como proposto no PNE.
Pelo caráter paralelo que apresentou ao longo da história educacional brasileira, a Educação Especial trabalhava somente com o que concernia aos grupos excluídos em função de suas deficiências. Por exemplo, ao programar uma palestra, focalizava somente os educadores que possuíam crianças ‘especiais’ e não toda a escola, ou toda a rede. Bastava que apenas o professor desses alunos obtivesse o conhecimento sobre elas. O professor que possuía somente alunos ‘normais’ não adquiria o conhecimento e perpetuava a sua desmotivação e sua desvalorização acerca do alunado da educação especial.
(SOUSA, disponível em http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=369. Acesso em 3 jan 2009).

A formação de educadores deve firmar-se numa transformação: a passagem de uma atenção centrada na criança considerada como tendo dificuldades de aprendizagem para uma atenção que engloba todas as crianças, de acordo com o desejo de Mantoan (1997). Os educadores devem concentrar seus esforços na melhoria da forma como enfrentam a diversidade, cuja educação deve visar a ajuda de todas as crianças para terem sucesso na escola (na sociedade), principalmente as que têm de ultrapassar deficiências ou dificuldades específicas.
Assim, Crochik indica a necessidade de repensarmos o processo de formação, porque quanto maior a dificuldade do sujeito em experimentar e refletir sobre o objeto ou sobre a própria realidade, maior será sua necessidade de defesa frente aos objetos que lhes causam estranheza. Freud já explicava isso, porque o estranho se mostra demasiado familiar, portanto, “[...] o medo frente ao desconhecido, ao diferente, é menos produto daquilo que não queremos e não podemos re-conhecer em nós mesmos através dos outros.” (p.14)
Será uma era de grande alegria quando conseguirmos extinguir o preconceito e a segregação de todos os tipos de nossas vidas. Mas realizar essa proeza significa negar uma cultura submersa em crenças, mitos e valores que se enraizaram e que, por muito tempo, foram (e ainda são) alicerces e base de explicação para a conformidade das atrocidades já cometidas pela humanidade ou justificativa de comportamentos que imaginamos ser o sensato.
Segundo Tomazi (2007) o preconceito é entendido como resultado do processo de socialização e, por isso, sofre alterações ao longo do tempo, em função das diferenças culturais e dos condicionantes históricos sociais. O preconceito não está ligado apenas aos aspectos do objeto fruto do preconceito, mas tem profunda relação com as necessidades que se encontram no sujeito preconceituoso.
Ao apresentar as relações familiar e escolar dos deficientes intelectuais na educação inclusiva é possível enxergar uma “Educação para Todos”, que está surgindo com a diversidade de ideais sociais com perspectivas de um mundo mais humano e compreensivo e menos segregado.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARTALOTTI, Celina C. A concepção de Educação Especial de Terapeutas Ocupacionais e suas implicações na Prática Profissional. Dissertação de Mestrado em Psicologia da Educação. PUC/SP, 1995.
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CORDIÉ, A. Os Atrasados não Existem: psicanálise de crianças com fracasso escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
Declaração de Salamanca e Linha de Ação Sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília: Corde, 1997.
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